Nos últimos anos, tenho ouvido muitas vezes esta pergunta: “Mas afinal, qual é a diferença entre um coach e um psicólogo?” E, mais do que isso, tenho sentido uma tensão no ar — como se estivéssemos constantemente a tentar defender territórios, em vez de construir pontes.
Hoje, quero escrever sobre isso. Com respeito. Com clareza. E com o desejo genuíno de contribuir para um entendimento mais profundo e colaborativo.
Um psicólogo clínico é um profissional de saúde mental, com formação universitária e muitas vezes especializado em áreas como psicoterapia, neuropsicologia, ou outras abordagens clínicas. Tem competência para avaliar, diagnosticar e intervir em casos de sofrimento psicológico, transtornos mentais, traumas, depressão, ansiedade severa, entre outros. Trabalha com base em modelos científicos, regulamentados e supervisionados, com um enquadramento ético e clínico bem definido.
O coaching, por outro lado, não tem como foco a dor emocional profunda nem o diagnóstico clínico. Um coach trabalha com pessoas que estão, regra geral, saudáveis e funcionais — mas querem ir mais longe, atingir um objetivo, mudar de hábitos, desenvolver algum tipo de competências, encontrar mais equilíbrio ou clareza.
O coaching é ação. É presença. É futuro. Ajuda-te a sair do ponto A (onde estás) para o ponto B (para onde queres ir) com estratégias práticas, foco e compromisso contigo mesma. E, quando feito com ética, é uma ferramenta incrível de transformação.
Então por que não são a mesma coisa?
Como se vê, não são a mesma coisa. Porque não nasceram para ser. Psicologia e coaching não são concorrentes — são respostas diferentes para necessidades diferentes.
Comparar as duas áreas é como comparar um nutricionista com um personal trainer: ambos te ajudam a cuidares de ti, mas com ferramentas, competências e finalidades distintas. E há espaço para os dois. Aliás… às vezes, o melhor é mesmo combinar os dois.
Nem tudo o que sentimos é um problema clínico. Às vezes, estamos apenas num momento de transição, de dúvida, de falta de motivação, de incerteza — e isso não significa que temos um transtorno psicológico, que há um trauma a ser tratado ou resolvido ou que estamos deprimidos.
A saúde mental cuida da nossa estabilidade emocional, dos traumas, das feridas profundas.
Já o desenvolvimento pessoal trabalha o nosso potencial, os nossos objetivos, os nossos sonhos.
Claro que as duas áreas se tocam: quando nos sentimos melhor connosco mesmos, quando cuidamos do que pensamos, do que sentimos e de como vivemos o dia a dia, a nossa saúde mental melhora. Quando criamos hábitos mais saudáveis, estamos focados nos nossos objetivos e nos priorizamos isso influencia a saúde mental. Quando resolvemos coisas do passado, percebemos os nossos padrões de comportamento ou tratamos algum transtorno psicológico, sem dúvida, que isso nos vai permitir um maior desenvolvimento pessoal.
Mas é importante sabermos reconhecer quando estamos a precisar de apoio clínico — e quando o que precisamos é de estrutura, foco e motivação para avançar.
Acredito, profundamente, que estas abordagens podem ser complementares Aliás, vejo isso acontecer muitas vezes nas minhas sessões. Há pessoas que estão a ser acompanhadas por psicólogos e procuram também o coaching para estruturar melhor os seus dias, definir prioridades, mudar hábitos e rotinas, integrar mais autocuidado.
E o contrário também acontece: clientes que chegam até mim e percebem que precisam de explorar emoções mais profundas com um terapeuta — e eu sou a primeira a incentivar isso.
Não é sobre disputar espaço. É sobre perceber onde cada uma de nós pode servir melhor.
Precisamos de mais regulamentação em Portugal? Sim, sem qualquer sombra de dúvida. Mas precisamos, acima de tudo, de mais humildade, diálogo e responsabilidade.
Profissionais de coaching éticos não querem “substituir” terapeutas. E profissionais da psicologia conscientes também sabem que não são (nem têm de ser) tudo para todos.
Se dermos as mãos, em vez de levantar muros, ganhamos todos: nós, os profissionais… e principalmente quem está do outro lado a procurar ajuda.
Sou coach por opção e com orgulho. Mas também já fui paciente de psicoterapia — e ainda hoje sou uma grande defensora da importância da saúde mental.
A minha visão é a de mundo onde psicólogos, terapeutas, coaches, nutricionistas, professores de yoga, médicos e todos os outros profissionais que queiram se sentam à mesma mesa com um objetivo comum: ajudar mais e melhor.