As férias chegam muitas vezes como aquele momento mágico em que tudo o que nos pesa pode finalmente ser pousado. Deixamos os horários rígidos, os compromissos apertados, as obrigações do dia a dia. É uma pausa merecida. E necessária.
Mas com essa pausa, vem também uma pergunta: será que, nas férias, vale tudo?
Deixamos de lado o despertador, o computador e a agenda. Mas, muitas vezes, deixamos também as práticas que nos fazem bem:
- Alimentamo-nos de forma mais desregrada
- Dormimos menos (se formos daquelas pessoas que querem passear muito, conhecer sítios, fazer excursões…) ou em horários mais caóticos
- Paramos o exercício físico
- E até largamos aquelas rotinas emocionais e mentais que sustentam o nosso equilíbrio — como meditar, escrever, respirar com intenção, agradecer
E é aqui que o tema se torna mais complexo.
Porque sim, desligar faz bem. Quebrar a rotina pode ser profundamente libertador. Mas também há momentos em que esse desligar deixa de ser leveza e começa a ser desconexão.
Desligarmo-nos do “modo automático” dá-nos a possibilidade de viver com mais presença. Numa semana de férias conseguimos, por vezes, saborear mais um café do que em dois meses de correria. Permitimo-nos estar com as pessoas, ouvir com tempo, movermo-nos sem pressa.
Esta pausa da disciplina pode ser, ela própria, um ato de autocuidado.
É como abrir uma janela depois de muito tempo fechados. O ar que entra é diferente — mais solto, mais livre, mais teu.
Mas nem sempre é assim.
Quando as férias se tornam um abandono completo de tudo o que nos equilibra, os sinais começam a aparecer:
- Sentimo-nos mais pesadas ou desconfortáveis com o corpo
- A nossa mente torna-se mais ansiosa, dispersa ou reativa
- Há um cansaço estranho, mesmo depois de dormirmos mais horas
- A sensação de “perdi-me de mim” começa a instalar-se
Às vezes achamos que estamos a descansar, mas o corpo e a mente estão a ressentir-se do abandono das práticas que nos nutrem.
Então… devemos manter tudo nas férias?
A resposta não é linear. E é precisamente por isso que é importante trazer consciência para este tema.
A disciplina extrema, aquela que não permite flexibilidade nem prazer, também nos adoece. Mas o oposto — o total desligar, o deixar andar sem intenção — pode afastar-nos de nós mesmas.
A chave está em perceber: Quando é que pausar é saudável? Quando é que pausar se está a transformar em perder-me de mim?
Se estás a construir as tuas rotinas agora, ou se ainda são frágeis, talvez o mais gentil e sensato seja manter-te firme. Os dias de férias podem ser ótimos para investir nesses novos hábitos com tempo e calma. Se já tens práticas sólidas e bem integradas, talvez possas parar por uns dias, sabendo que vais regressar. Como quem se afasta um bocadinho da estrada, mas sabe o caminho de volta.
Esta pausa pode ser uma oportunidade preciosa de observação: O que é que te faz verdadeiramente bem? O que é que abandonas facilmente? De que é que sentes falta quando paras?
Ficar atenta a estas respostas pode ajudar-te a refinar as tuas rotinas e a perceber o que já está enraizado em ti e o que ainda precisa de cuidado e compromisso.
As férias podem ser um tempo de pausa, sim. Mas também podem ser um convite a olhar para o que está (ou não está) sólido dentro de ti.
Cuida-te, mesmo quando relaxas.
Mesmo quando tudo abranda.
Ou talvez… especialmente aí.