O culto da produtividade
Vivemos numa cultura que glorifica a produtividade. Estar ocupada é quase um troféu, um sinal de valor. Quantas vezes já respondeste “anda tudo uma loucura” quando alguém te pergunta como estás? Parece que o “andar à rasca de tempo” se tornou a norma e até uma forma de reconhecimento social. Na realidade, não poderíamos estar mais longe do slow living (viver devagar).
Mas deixa-me provocar-te um pouco: será que é mesmo preciso viver assim?
Gerir o stress não se resume a fazer respirações profundas ou a aprender técnicas de mindfulness (apesar de serem ferramentas valiosas e que recomendo). Para realmente curarmos o stress crónico que nos desgasta, é preciso algo mais profundo: repensar a forma como vivemos.
O poder de fazer menos
Dito isto, fazer menos é um ato de coragem. Dizer “não” é difícil. Ter menos objetivos quase parece um insulto num mundo que te diz constantemente para sonhar grande, conquistar mais, ser melhor.
Ainda assim, acredito que é exatamente isso que a maioria de nós está a precisar. O nosso sistema nervoso precisa de espaço para se reparar. Não foi feito para estar constantemente em estado de alerta, a reagir a notificações, a gerir compromissos e prazos. Foi feito para alternar entre ação e descanso. Mas, sinceramente, parece-me que o descanso está a perder a batalha há décadas.
Escolher fazer menos é uma decisão consciente de sair do piloto automático. É desafiar a ideia de que o teu valor está no que produzes. É dar-te permissão para simplesmente existir sem ter de provar nada a ninguém.
Tu sabes quem és sem o teu trabalho ou todas as tarefas e obrigações diárias? Quem és quando não estás a produzir, a servir, a fazer? Talvez seja hora de descobrir.
Viver devagar = viver com intenção
E nota, viver mais devagar (ou slow living) não significa abdicar de tudo para ir viver para o campo (a não ser que esse seja o teu sonho). Significa escolher, de forma mais consciente, o que ocupa o teu tempo e energia.
Algumas ideias práticas:
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Diminui compromissos. Só porque podes dizer “sim” não significa que devas ou tenhas de o fazer.
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Reavalia os teus objetivos. A vida que estás a tentar criar é mesmo tua? Aquilo em que colocas o teu tempo ainda faz sentido? Os sonhos de há 5 anos continuam a ser os teus sonhos hoje?
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Cria momentos de nada. Agenda na tua semana tempo para literalmente não fazeres nada.
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Reflete antes de aceitar. Um novo projeto aproxima-te ou afasta-te da vida que queres viver? E se disseres não, o que acontece?
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Permite-te sentir. Se parar te deixa desconfortável, explora isso. Talvez aí esteja a chave para o que realmente precisas.
O slow living não é preguiça. É um ato de autocuidado profundo, quase revolucionário, num mundo que quer que estejas sempre disponível e produtiva.
Para finalizar, partilho contigo que não gosto da ideia de aprender técnicas de gestão de stress apenas para “aguentarmos” continuar a ser produtivas num mundo que vive a mil à hora. Será que o problema real não é a vida que estamos a tentar aguentar? E se a solução não for aprender a aguentar, mas escolher intencionalmente deixar de viver a mil à hora?
Um convite à ação
Podes começar agora com um passo pequeno. Desafio-te a escolher esta semana uma coisa para tirar da tua agenda. Só uma. E observa como o teu corpo e mente reagem ao ter esse espaço.