Já alguma vez sentiste que és mais ansiosa do que as pessoas à tua volta? Que o stress te afeta de uma forma que parece desproporcional? Ou que parece fazer parte de ti, como se estivesse no teu ADN?
Talvez já te tenhas perguntado: será que herdei isto?
A verdade é que a resposta não é linear. A ciência mostra que tanto a genética quanto o ambiente têm um papel fundamental no desenvolvimento da ansiedade e do stress.
Estudos indicam que a predisposição para a ansiedade e o stress pode ser herdada em parte. A hereditariedade dos transtornos de ansiedade ronda os 30 a 40%, o que significa que, sim, há um fator genético envolvido (Gottschalk & Domschke, 2017).
Os cientistas descobriram que certas variantes genéticas afetam a forma como o nosso cérebro responde ao stress. Por exemplo, pessoas com uma determinada variação do gene que influencia a forma como processamos a serotonina (neurotransmissor essencial para o equilíbrio emocional), tendem a ser mais sensíveis ao stress e têm maior risco de desenvolver ansiedade e depressão (Caspi et al., 2003).
Outro fator genético importante é a forma como o eixo HPA (hipotálamo-hipófise-adrenal) – o sistema que regula a resposta ao stress – funciona. Algumas pessoas nascem com um eixo HPA mais reativo, o que significa que o seu corpo liberta mais cortisol (a hormona do stress) perante desafios do dia a dia (Sharma et al., 2016).
Mas a genética, por si, não dita o nosso destino. É aqui que entra um conceito fascinante: a epigenética.
A epigenética estuda como o ambiente e as experiências de vida influenciam a expressão dos nossos genes. O que é que isso significa? Que mesmo que tenhas herdado genes que te tornam mais propensa ao stress e à ansiedade, o modo como vives a tua vida pode “ligar” ou “desligar” esses genes (Turecki & Meaney, 2016).
Por exemplo, estudos mostram que crianças que crescem em ambientes seguros e afetivos desenvolvem uma melhor regulação emocional, mesmo que tenham uma predisposição genética para a ansiedade. Por outro lado, traumas na infância, negligência ou um ambiente altamente stressante podem modificar a expressão de genes ligados à resposta ao stress, tornando a pessoa mais vulnerável à ansiedade na vida adulta (McEwen, 2012).
Outro dado curioso? Estas modificações epigenéticas podem ser transmitidas para a próxima geração. Isso significa que o stress vivido pelos teus pais ou avós pode ter deixado marcas nos teus genes – mas, felizmente, também significa que escolhas saudáveis e práticas de gestão do stress que tu apliques, podem reverter esses efeitos para ti e para a tua descendência.
Então, assim, a ansiedade e o stress são ou não hereditários?
A resposta curta: em parte, sim. Mas não de uma forma determinística. A genética pode dar-te uma maior ou menor vulnerabilidade ao stress e à ansiedade, mas o ambiente e as tuas escolhas diárias são os fatores decisivos na forma como se manifestam.
A boa notícia? Se sentes que o stress e a ansiedade controlam a tua vida, há formas de reprogramar o teu sistema nervoso para reagir de forma mais tranquila às dificuldades.
Podes descobrir algumas delas aqui.
E mantém presente que a genética pode influenciar a forma como experienciamos o stress e a ansiedade, mas não determina o nosso futuro. És muito mais do que os teus genes. És a soma das tuas experiências, escolhas e das ferramentas que decides usar para te fortalecer.
E se há algo que posso garantir, é que é possível aprender a viver de forma mais leve e equilibrada. Um passo de cada vez.