O stress e a ansiedade tornaram-se parte da nossa rotina. Já não é apenas uma resposta ocasional ao trabalho ou à vida pessoal – parece que é constante. Mas, o que está por trás desse estado de ansiedade e pressão? Porque é que parece que estamos sempre a lutar contra isto? A resposta vai além de fatores pessoais ou circunstâncias isoladas. O mundo, em muitos aspetos, está estruturado para nos manter nesse estado.
A pressão do consumo
Vivemos numa sociedade de consumo, onde o marketing e a publicidade estão constantemente a tentar criar em nós a sensação de que precisamos de algo mais para sermos felizes. O consumo não é apenas sobre produtos – é sobre o nosso tempo, a nossa atenção e os nossos recursos. E é aí que entra o stress: uma constante busca por mais, a corrida incessante para atingir padrões e metas que não são nossas, mas que nos são impostos pelas diversas indústrias.
As grandes empresas sabem que um consumidor stressado ou ansioso é mais fácil de manipular. O stress gera uma necessidade urgente de alívio, e muitas vezes, esse alívio é encontrado na compra de algo que promete uma solução rápida para o que quer que nos incomoda. E assim, tornamo-nos prisioneiras de um ciclo vicioso onde a sensação de insatisfação nunca desaparece, pois há sempre mais para consumir.
Sobrecarga de informação
Com a era digital, a sobrecarga de informação tornou-se parte da nossa rotina. Estamos constantemente conectados a dispositivos e plataformas que nos alimentam com informações – e nem sempre boas. O excesso de notícias, alertas, notificações e mensagens cria uma sensação de urgência, que faz com que o nosso corpo entre em modo de “luta ou fuga” constantemente. Essa exposição constante a informação, muitas vezes negativa, aumenta os níveis de stress, pois o nosso cérebro não foi feito para lidar com tantas fontes de estímulo ao mesmo tempo.
A natureza das redes sociais também amplifica essa pressão. A comparação constante com os outros e a busca por validação aumentam ainda mais a nossa ansiedade. A sensação de estarmos sempre atrás, de não sermos suficientes, de não estarmos no “lugar certo” faz com que o estado de ansiedade se acumule e se perpetue.
A exigência desmedida do mercado de trabalho
No mercado de trabalho moderno, a cultura da exigência tornou-se uma norma. Horários longos, multitasking e a pressão por resultados rápidos são apenas algumas das formas como o trabalho contribui para o aumento do stress. A tecnologia também tem um papel importante aqui: as expectativas de estar sempre disponível, a qualquer hora do dia, exacerbam ainda mais o problema. O trabalho nunca acaba. E, muitas vezes, não é só a quantidade de trabalho, mas também o tipo de trabalho – tarefas que exigem uma grande carga emocional, responsabilidade e decisões rápidas.
Além disso, a falta de limites claros entre vida pessoal e profissional nunca foi tão acentuada. O conceito de “produtividade máxima” tem gerado um ambiente onde somos levados a acreditar que estar ocupado é sinal de sucesso, o que nos impede de descansar e nos desconectar.
A falsa ideia do que é uma “boa vida”
Desde cedo, somos ensinados a seguir um “caminho certo”. Este caminho, na visão da sociedade, é marcado por marcos e sucessos: estudar, arranjar um bom emprego, casar, ter filhos, e assim por diante. A mensagem subjacente é clara: existe uma forma correta de viver a vida, uma escada a subir para alcançar o sucesso e a felicidade.
Mas o que acontece quando o molde não encaixa? Muitas pessoas, na tentativa de seguir esse padrão, acabam por se perder. Tentam corresponder a um modelo que pode não corresponder à sua verdadeira essência. Para muitas, isso gera uma pressão constante, levando-as a viver de acordo com expectativas externas e não internas. A busca incessante por aprovação social, o medo de “ficar para trás” e a ideia de que a vida tem de seguir um script pode ser esmagadora.
O custo de tentar ser algo que não somos é elevado, e muitas vezes leva-nos a um ponto de exaustão. A ideia de que há um padrão a seguir é uma das maiores armadilhas que nos aprisionam no ciclo do stress e ansiedade. Porque quando nos sentimos forçadas a seguir um molde que não é nosso, acabamos a negligenciar as nossas necessidades verdadeiras, o nosso bem-estar e o nosso ritmo natural
Falta de conexões reais
O aumento da solidão e do isolamento também é uma das grandes causas do stress na sociedade moderna. Embora as redes sociais nos conectem virtualmente, muitas vezes isso não se traduz em conexões reais e profundas. O isolamento social pode fazer-nos sentir que estamos a enfrentar tudo sozinhos, o que aumenta a sensação de pressão e ansiedade.
A falta de apoio social e emocional é uma das razões pelas quais o stress se torna uma constante na vida de muitas pessoas. Sem uma rede de apoio, sem espaços de descanso e de pausa, é fácil sermos consumidas pela pressão do dia a dia.
Acredito que esses fatores estruturais não são acidentais – fazem parte de um sistema que depende do nosso stress para funcionar. A cultura do trabalho interminável, a alimentação de emoções negativas através das redes sociais e a pressão constante do mercado de consumo são apenas algumas das ferramentas que mantêm este ciclo perpétuo de stress.
Ao manter-nos constantemente ansiosos e insatisfeitos, a sociedade cria consumidores cada vez mais manipuláveis. A sensação de que nunca somos suficientes, de que há sempre algo mais a conquistar, é reforçada em contínuo, fazendo com que o stress nunca desapareça.
No entanto, por mais que o mundo nos queira neste estado, temos o poder de mudar. A chave está em percebermos o que está a acontecer à nossa volta e como as estruturas que nos rodeiam alimentam a nossa ansiedade. Quando começamos a questionar e a desafiar este sistema, podemos encontrar formas de desacelerar e reconectar-nos connosco mesmas, com o nosso corpo e com os nossos verdadeiros valores.
É um processo difícil, moroso, mas possível. Desacelerar, aprender a regular o sistema nervoso, praticar o autocuidado e criar um estilo de vida mais tranquilo são passos cruciais para sair deste mil à hora em que todas vivemos.
Não se trata apenas de resistir à pressão externa, mas de criar um novo padrão interno – um padrão de calma, equilíbrio e paz.