Se há algo que tem sobrevivido ao longo de décadas, é a confiança quase cega que depositamos nos médicos para tomarmos decisões sobre a nossa saúde. Afinal, eles estudaram anos para isso, certo? No entanto, quando o assunto é nutrição e suplementação, será que deveríamos depender unicamente das recomendações médicas? Ou há algo mais profundo a ser considerado, algo que não nos é ensinado desde cedo?
Pouca gente sabe, mas a maioria dos médicos tem uma formação muito limitada em nutrição. Sim, os mesmos profissionais a quem confiamos a nossa saúde muitas vezes não recebem mais do que algumas horas de educação sobre alimentação e suplementos ao longo de toda a sua formação. No entanto, são vistos como a maior autoridade para dar conselhos sobre o que deveríamos ou não tomar. Isto acontece porque, desde há imenso tempo, a sociedade colocou os médicos num pedestal. São considerados quase infalíveis, uma autoridade máxima em todos os assuntos relacionados à saúde. E confiamos cegamente neles para temas que, muitas vezes, estão fora da sua especialidade.
Mas esse pedestal, além de problemático para nós, também é injusto para os próprios médicos. Exigir que saibam tudo é algo que ultrapassa o âmbito da formação que receberam e as ferramentas que têm à disposição. No final, acabamos todos presos num ciclo de expectativas irreais em relação aos cuidados de saúde. Também desresponsabiliza cada individuo face à sua saúde e bem-estar – a culpa é do médico, quer as coisas corram bem ou mal, nunca nossa. Muito conveniente.
Outra coisa que me escapa à compreensão: muitas pessoas hesitam em tomar um suplemento sem que o médico tenha dado o seu aval, mas consomem alimentos processados diariamente sem sequer ler os rótulos. Será que algum de nós pede ao médico aprovação para comer aquela pizza congelada cheia de conservantes, corantes e açúcares escondidos? Não, não pedimos. Porque o marketing diz-nos que é normal, que está tudo bem. A grande questão é: por que temos medo de algo que pode ajudar a nossa saúde, mas não questionamos o que colocamos no nosso corpo todos os dias através dos alimentos processados, bebidas alcoólicas, e até da água da torneira?
A saúde foi, durante muito tempo, elitizada. Fizeram-nos acreditar que só um profissional de saúde sabe o suficiente sobre o nosso corpo e que não podemos, ou não devemos, tomar as rédeas dessa área da nossa vida. Mas e se o nosso corpo tiver uma sabedoria inata? É que eu acredito mesmo nisto. E se, com um pouco de prática, todos pudéssemos aprender a escutar os sinais do nosso corpo, a entender o que ele realmente precisa e a experimentar o que funciona melhor para nós?
Não estou a dizer que devemos descartar o conhecimento científico e a medicina tradicional. Tudo tem o seu lugar e sou tão grata por vivermos num tempo em que a ciência avançou tanto e temos acesso facilitado a cuidados médicos. Mas deixemos com o médico aquilo para que ele foi treinado. Deixemos com ele aquilo que não podemos fazer sozinhos. E, se precisarmos dele, que sejamos uma parte ativa nos nossos processos de diagnóstico, tratamentos e cura. O que pudermos fazer por nós, é menos um peso no nosso sistema de saúde que, infelizmente, está pela hora da morte.
Voltando à suplementação. Suplementos prescritos, quando necessário, têm o seu lugar. No entanto, é importante lembrar que muitos desses suplementos são soluções rápidas para sintomas, não para a raiz do problema. Além disso, existem vários estudos que mostram que ingerir vitaminas e outros nutrientes de forma isolada e/ou sintetizados em laboratório pode resulta numa biodisponibilidade muito reduzida. Isto quer dizer que quando compramos um suplemento que foi criado em laboratório, o nosso organismo vai absorver apenas uma pequena percentagem, pois reconhece-o como sendo algo que não é natural. De forma semelhante, quando o suplemento traz apenas um nutriente isolado (ex: só ferro, só magnésio, etc) essa absorção também pode estar dificultada, pois o nutriente não vem junto com outros componentes dos alimentos onde costuma estar presente, que naturalmente facilitam a absorção.
Tomar suplementos naturais pode ser uma forma de prevenção. Pode ser uma maneira de nutrir o teu corpo diariamente e de manter os teus níveis de vitaminas e minerais em equilíbrio. Pode ser uma forma empoderadora de cada um de nós começar a desenvolver hábitos saudáveis. O que precisamos é de nos lembrar que a suplementação não deve ser feita com produtos sintéticos ou isolados. Ao escolher suplementos, é crucial optar por aqueles que são feitos à base de plantas, a partir de alimentos reais que entendemos. Quando consumimos suplementos que incluem ingredientes naturais, que são familiares ao nosso corpo, a absorção e a utilização desses nutrientes pelo organismo tornam-se muito mais eficazes.
Assim, ao invés de encararmos a suplementação como algo potencialmente perigoso ou apenas recomendado pelos médicos, podemos vê-la como uma extensão da nossa própria capacidade de cuidar de nós mesmos. Ao respeitar a sabedoria inata do nosso corpo e nutrir-nos com coisas que ele reconhece e aprecia, estamos a empoderar-nos, a investir na nossa saúde de uma forma significativa e sustentável.
Claro, é sempre importante fazer uma pesquisa, estar informado e, quando necessário, consultar um profissional. Mas não deixemos que nos digam que não somos capazes de tomar decisões sobre o nosso próprio corpo. Deixar que nos assustem ou nos retirem o poder sobre a nossa saúde é uma perda de liberdade e de responsabilidade pessoal.
Da próxima vez que sentires que precisas de suplementar, lembra-te disto: a tua saúde está nas tuas mãos. Experimenta, escuta o teu corpo, faz as tuas próprias investigações. E, acima de tudo, não deixes que te assustem com a ideia de que não és capaz de gerir a tua própria saúde. Afinal, quem melhor do que tu para saber o que o teu corpo realmente precisa?